segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Seios Vermelhos.

Primeira Parte.

Um.

Respingos de lama como ondas são provocadas pelas solas do coturno que esmagam o solo. Como raios que rasgam o céu são os passos que cortam a terra e dos buracos de numero trinta e sete enchem de água espessa, de cor vermelha. De machucados largos nessa esfera que na Grécia teve o nome de Gaia. Gaia rompe o sorriso para Willyans, o jovem Willyans, de aparência de ninfa, gesticulosamente sensível, e de crueldade, essa que impregnando no crânio, além do crânio no mistério empírico, a brutalidade do deus Ares. Apressa-se pelo sitio esquecido, como um fogo fátuo de misticismo nos lugares desdenhados pelo homem. Há arvores de pele de ébano, sussurros, soldados derrotados de uma guerra de mil anos, tudo encharcadas por lagrimas que alvoroçadamente as despertam do sono. Um céu triste, o Senhor está no trono. As lagrimas que caem vem de seus olhos, uns tanto quanto mundanos. Tais olhos de homem; Deus lamenta quando no seu céu a palavra crime é escrita por rajadas de vento e estrondosos trovões. Os personagens a vêem. Pudera haverá assassinatos daqueles de cortes muito profundos. Está é uma noite de pesares pela estupidez humana, ou talvez quem saiba, apenas, e só, a índole esculpindo como Davi a seu Michelangelo, o caráter.
O jovem de pés de moça alcança seu destino, puxa duas pistolas As armas estavam em seu cinto, puxa-as com engenho. Vai até o umbral da mansão. Uma área de 1000 m² donde a vista se perca. É um calculo de meses, e tudo é simetricamente feito. Cinco batidas no coração do moço lá fora, cinco batidas no coração da mocinha aqui dentro. Ela sai, desce e esquiva, silêncio. Flutua. É inspirada pela Lua. É noite de Lua. Ele sussurra – Vanessa... Vanessa... Vanessa. O portão é aberto, faíscas saem dos jovens, os dois se beijam em meio à nebulosidade do lugar, como o amor precoce que derrama da fonte e desce virando lama até empoçar em velhos lençóis. Ela o conduz, indo até uma luz que seria a vida após a morte, ultrapassando o sofrimento, o remorso deixa ao vento e inverte-se no hall de entrada uma adornada cruz. As pistolas estão postas e na sombra homogênea armas e atirador.
A noite natural das matas entra em ápice, e lá fora o breu é total. Se ouvir uns uivos, morre-se de medo. Vê-se uma coruja em seus hábitos crepusculares e com seus olhos de morte, sacode a espinha. Lá dentro a cúmplice esta um pouco trêmula, sobe as escadas – Espere Willyans! Entra em seu quarto, lê uma estrofe de Marquês de Sade. Pondera sobre a morte: “Eu menina casta, de família de brasão só de ingratidões me serviu a pureza, o zelo e a caridade. Nessa santidade para qual me dediquei de corpo e de psique, Sade esteve certo e a morte não e nada mais quando em mim ela não cai. Laço de família, tudo isso é histeria e eu me entrego à heresia e as devoções da carne, e tudo que é bom; é bom, enfim, eu apanho, mesmo que convoco Átropos, a Moira que corta a linha”. Ela volta, o chama. Ao contrario das pegadas no chão que infiltrou à água, fez de lamaçal, atormentando-a natureza. Aqui dentro ele é um pio, que desliza como uma garça riscando levemente a água e recitando a balada: “Tudo certo minha rainha, vamos, vamos, hoje é noite de orgias, o vinho esta no sangue e as palavras que vierem, daquelas preces serão sofismas, vamos pomba minha, ser amantes nessa ilha e gozar com a herança desses tolos para toda nossa vida. Apressamos, apressamos, à noite não pode vim a ser dia, é noite de lua cheia, ela nos inspira”.
A quietude é tamanha e se a foice nos corredores assegura o carrossel para esta jornada, ela vai ter de ser paciente. Os ossos que seguram o cabo desceram o corpo largo curvado afiado num beiral. Olhou ao horizonte e permaneceu. Vultos também sãos os vivos para os seres do além, e essa criatura filosofada já em épocas perdidas, de face aberrante de caveira, olhou suas duas crianças no corredor de piso requintado de seminato de Veneza. Os personagens passivos desse episódio, que as leis do infortúnio agora os velem; dormem com a face aberta nos estágios do sono, do primeiro ao quarto, estados altos de bem estares.

O corpo se funde ao da donzela e a Morte se torna o voyeur dos dois.

Dois.

Uma vida nutrida, mesas tridimensionais onde não se sabe o que o estômago dissolve. Vanessa engole as variações dos pratos na mesa de domingo. Agrada ao Pai porque seu pai também a agrada e se não, há devidas censuras. Um ministro religioso da Igreja Protestante. Homem de espírito, severo, ereto em suas obrigações eclesiásticas. Mas pai de coração mole que mesmo em palacete abre as portas da frente para suas princesas. A seriedade aumenta, é pela mãe, criatura severa. Corpo de marfim dos mais belos sons de outrora. Com o corpo em ebulição tem o desejo de despencar do penhasco, uma mão gigante a desce até a profundidade e ela acompanha um peixe abissal. Vagando, absorvida pelos segredos que talvez o homem jamais conheça. Mas a mão gigante, agora outra, pesada, enrugada, que a aperta, a levanta de volta a mesa.

Três.

Não há mais esperanças em nenhum lugar. Todos eclipsados num congelamento do tempo. Frio como a morte. Soturno. A postura modelada, um acesso de pureza física, que Adão aberto é o nosso deixando Vanessa ir com tal serpente - a serpente sabia - banha-se a menina na fonte venenosa do mundo. O veneno é o plástico, é o oceano de plástico. Muros gigantescos de plásticos. Árvores genealógicas de plástico dormindo, manequins, brinquedos de lojas de sexo. Estão mortos, não há necessidade para o ato, a menos que o ato seja um ato de uma peça devidamente ensaiada, sistemática, coreografias, um professor dentro da mente formada pelo asco, a vontade de ser livre, mesmo não existindo par de asas algum. A liberdade que seja, é uma poesia. Vanessa busca poesia, é poesia que faz para o assassinato. “Willyans!” É o titulo do que escreve. Seu nome é a cabeça. O prefacio. É o discurso filosófico para carnificina. Seus braços e pernas são as armas para esmagar quem a pos no mundo. Willyans que ela adentra. A cabine esta no peito é o coração. Que fúria do jovem, a juventude em teus olhos de ouro unidos a lascividade que remexe o membro latejante. Oh! Serpente de Éden expulsa do Jardim. Vá menina com ela entregar-se aos desejos do Inferno. O Inferno é o futuro, é tudo isso que nós temos. É o que o mundo da com vontade; o telefone que toca. A faca que respinga tintura vermelha, e o cano que solta fumaça como o touro que esquarteja seu algoz. São os pais mortos pela filha, suas irmãs estendidas numa cena triste arrancadas com violência da vida.



Quatro.

Adipocera

Se pudéssemos por os sonhos nestes crânios, devolve-los aos donos. Como seriam esses: Crânios apaixonados. Sedentos. Ingênuos. Manifestos. Eles ficam dispersos ao Universo. Todavia como podemos pensar tal coisa do Universo. Uma ligação tola do Infinito com a obra ínfima do acaso. Não, não há. Essas mortes não representam nada. A posição onde encontra seus joelhos Vanessa, o sangue seco borrados nos dedos, observou a decomposição como observa um parto, maravilhado. É a criança que chora violentada pelo fato do nada. A criança é o miasma destes corpos. Todos os pontos se ligam, de partida, e volte ao ponto. Acuda rapaz não o enfermo, mas a própria enfermidade, dissipando como o grande devorador a ser devorado por um monstro maior a sua própria essência de ser.
- Besta dos campos! Unicórnio.
O trabalho árduo de nascer. A claridade do mundo real, o espírito outorgado pelos arbustos. Os juizes dos carnavais. Encontre com Baco onipotente, festeje. Celebre suas fantasias pagãs. Todavia, que espírito cristão, que amor de Jesus Cristo no paraíso, a vida eterna ofuscando a visão dos mortais.
- Liberte-se Vanessa da propagação, dê-me esta buceta e arrancarei o que vier depois e outras mil vezes. O que fazemos agora? Não importa, o curso é o mesmo eternamente.
-Oh Deus! Que horror tantos cadáveres juntos atingindo os ossos. Quanto tempo passou?
- Dois ou três anos. Não sei ao certo.
- E porque não dissestes?
- O quanto importa o martírio do tempo?
- Vejo meu rosto agora Willyans e não tem o aspecto do monstro, estou bonita. Como estou bonita. Fale-me amor. Diga-me como estou? Meu espírito rejuvenesce minha pele e meu tino, está tudo muito limpo.
- Deliciosamente...
- Vamos jantar querido.



Segunda Parte.

Um.

Ponderei a aquela altura o meu estado frágil, debilitado de minhas emoções. Acendi um cigarro e um espasmo, um grito interno, e conforme foi à intensidade fui subindo a sacada do apartamento e joguei-me por vinte andares, descendo por hora rente aos espelhos, assisti a minha imagem se desnudando. Devia estar no décimo quinto andar e por aquele reflexo meus seios diminuíram, eu encolhia. Tomava-me uma forma conhecida de um tempo antes, e quanto mais eu descia, mais me desconhecia, mais diminuía. Era eu criança voltando no tempo ininterruptamente até entrar no útero. Uma ogiva nuclear subiu aos céus. Consegui ver sua trajetória por segundos e explodiu. Na varanda um outro cigarro, um outro espasmo. O céu se expandia, arcos de luzes embelezavam. O útero. Senti o quente da estaca zero. Teria novamente que pular? Não em metafísica. A alma que convertia em espectro. Teria que pular em condição de aglomerado de carne? O existencialismo tomou-me, revirou-me de cima a baixo. Quis despregá-lo, soltá-lo com um martelo seco. Deixei o olhar vago, congelado, fazia das pessoas ao meu lado tornarem-se uma massa cinza. A luz do céu também se tornava cinza. A cidade por completo se tornava cinza.
A cidade de Ezequias estava em festa. Vistos pela varanda muitos fogos explodindo. Pessoas bêbadas cambaleando. Estava no apartamento de minha avó. Típica comemoração de fim de ano. Gente desconhecida e pessoas muito próximas também desconhecidas. Burburinhos. Música alta. Saltos altos. Conversas eróticas. Tudo é erótico. O mundo é erótico. Carne na brasa. Cerveja, vinho, conhaque, vodka. Todos se divertiam. Não era o calendário chinês, era o branco. Dois anos se passaram, mas eu desci da cruz e enfie a cruz na frente, de propósito. Novo recomeça. A saída do útero. Filmei certas cenas, construí uma comédia com o presente de minha avó. Ganhei há pouco, apertava-se um botão e tudo ficava bonito, via satélite. Tecnologia nova, dizia ela. Não sei como funciona, não tive aulas para isso. Deveríamos ter aulas para essas coisas começando pela combustão de um fósforo. A diversão exacerbada estampados no rosto daquela gente trazia-me um grau de melancolia. De força inigualável meu corpo exprimia, queria se livrar de mim. Éramos ambos. Distintos. Um estado de ereção das pernas e dos braços contradizendo o úmido de meus olhos. Meu vestido apertava. Puxava seus lados. Ele agarrava. Erótica eu? Por quê? Meu pai veio em minha direção, como desviar, o abismo lá estava, cadê a brecha? Não podia brincar assim com o útero, não podia me enfiar e sair dele quanto bem quisesse a ordem não era essa? Qual era a ordem das coisas. Nove, oito, sete, seis, cinco, quatro... E pausa, meu pai parou, ali imóvel olhando para mim. Um cubo de gelo gigante sendo descongelado por um maçarico. O fim da era glacial, o Cro-Magnon estava sendo descongelado. Sentia o hálito pútrido exalando, aquela primitiva forma humana movimentando as pernas e... Três, dois, um.
“Vem comigo papai, o relógio marca zero horas. Deixe os jeans colados, os decotes suportando o molde de sua boca. É um harém do qual não tem alcance. A metade delas é a mamãe, duplicatas dela, a outra metade são suas irmãs, não vê? Ignore isso aqui é uma montanha, está na hora de descer. Não quer, o senhor não vem? É uma montanha invertida, papai. Fique ai. Não o quero mais. Desço sozinha. A visão de lá me agrada. O que vocês vêem aqui não é real, é invertido. Estou indo papai. Onde está a mamãe? Ela é como você, nasceram um para o outro. Eu corto o cordão umbilical com um serrote, tem o seu nome nele. E o Carlos? O que você da para a mamãe o deixa forte, não é? O cordão umbilical dele não se corta. Ele é mais velho que eu, mas não o corta, jamais ira cortá-lo. Este útero que entro é o meu próprio. Agora sei, posso entrar dentro dele. Posso assim brincar com meu útero.” Vieram outras pessoas com seus braços, mais de um, dois, três Mamãe esmagando meus ossos. Um aperto desesperado. O fruto amadurecendo no seu galho. As pessoas olhavam e diziam; “como amadurece bem este fruto, está encorpado”. A árvore não poderia dar mais frutos. O terceiro fora estragado, as minhocas engordavam dentro dele, e foi arrancado do galho. O primeiro já estava preste a cair, fruto macho, orgulhoso, viril, onipotente, crescendo forte. Seguindo os passos de papai, estava ele ali, nu, forçando a musculatura, sendo pintado. E eu pendurada nos braços de mamãe. Dentro dela eu crescia igual a ela, papai não foi à semente, não foi nada. Quando sai, o médico não pode me erguer, tinha a idade dela, vestida como ela. A lança através dos séculos dando sentido a um eu eterno a desapontou. O anagrama foi rompido. Não vivo por você, vivo por mim. A idealização de todos que se julga por ter o poder de dar a vida, de transportá-la, como alguma crença espírita de voltar a um outro, foi falha. A besteira mumificada. Esses pontos foram vistos e repudiados tristemente, a incapacidade de observar o fim necessário das coisas. O ato, o ensaio que tem fim. O auge do que encontrei e clareou a luz direta no cérebro foi com você; Kelly. Os laços de casa enfraqueceram. Toda a composição caiu. Não tinha como ocultar, e pelo céu aberto este, que a fita, amada Kelly. Como era risível tudo aquilo.
Sai da sacada, não sozinha, obviamente vinha uma legião de demônios comigo, todos conquistados naquela crise. É espantoso como o mal se manifesta. Inquietante de um tiroteio de duvidas, de perscrutações. É impossível que uma idéia seja formulada no fenômeno da paz. Pois eu ia driblando aquela gente possivelmente atordoada comigo e com todos. Um estado de perfeição e superação foi à máxima de uma moral estabelecida por mim naquele instante. Reinventei o útero, aonde qualquer um poderia entrar nele e sair quando desse na telha, quando se enchesse. Embora, insignificante qualquer demonstração fosse feita para a chusma. Contive-me e guardei-me com meu amor por você. Abri a geladeira, uma outra cerveja aliviava o vôo e acalmava minhas asas, planava pelas cores, o cinza dissipava mostrando outros tons esverdeados, amarelados, avermelhados, azulados, mas todos obscurecidos pela noite. Via os rostos com suas mais variadas diversidades; Percebi o mínimo esforço da natureza para diversificar seus filhos, o trabalho nestes poucos anos foi mínimo, um gracejo com ela mesma, cansada da monotonia de sempre existir, criando e destruindo. Uniformização; olhos, bocas, dedos e fígado. Mas o que é amor, pois a vendo, é única, o que diabos ele nos faz, que transformação será essa? Atirada em teus braços, perto ou distante, vejo a perfeição dos seus traços do mesmo modo, como é linda.

(Rascunho de um conto não terminado, antigo e esquecido por minha apatia)

Ander. Por volta de 2002.

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